Sobre Destino e Livre-Arbítrio

Divani TerçarolliArtigos, Astrologia Prática

Contos de fadas, mitos antigos, bem como novelas, filmes, e romances de ficção atuais, sempre contêm símbolos do Destino. Os contos de fadas, especialmente, trazem sempre as figuras femininas sombrias das feiticeiras e das fadas más. A própria palavra fada vem de fatum, que significa Destino.

O homem moderno, ao contrário do que se poderia esperar, com todo o conhecimento disponível atualmente, também teme o Destino. Dentro de nós ainda existe um vago sentimento de que há um poder maior, uma lei moral governando o universo. Tememos o Destino assim como tememos o futuro, a morte, o desconhecido. Queremos saber o sentido de nossas vidas, qual nosso papel na vida, qual nosso lugar no Cosmos. Somos predestinados, ou somos livres? Qual o significado dos eventos que nos acontecem? Por isso vamos a astrólogos – para tentar desvendar nosso Destino.

Para os antigos, Destino era uma figura feminina, uma deusa ou uma tríade de deusas: as três Moiras ou Parcas (Ou também, Erínias ou Normas), assim como são três as fases da Lua: crescente, cheia e minguante, e as três fases de vida da mulher – solteira/virgem, esposa/fértil e anciã/estéril. O Destino é feminino pela ligação com a terra e os processos biológicos de nascimento e morte a que as formas materiais estão sujeitas.

Destino é feminino, pois é experimentado primeiramente – e principalmente – no corpo. O corpo da mãe que nos gera e alimenta influi sobre nosso corpo em formação, com seus hábitos, e o material genético transmitido de geração em geração, sobre o qual não temos qualquer poder. Isso faz da família um grande instrumento do Destino.

Outro setor da vida onde o Destino se manifesta é o Amor. Platão dizia que Eros, o amor, era um gênio poderoso, pois as determinações do amor se impunham sobre tantas outras considerações que, às vezes, o amor era uma das maiores experiências de Destino que um ser humano poderia vivenciar. Realmente, o Amor nos impulsiona, nos modifica e transforma, podendo nos fazer galgar novas etapas de desenvolvimento.

Plutão, deus do mundo subterrâneo, também associado à morte e a um destino implacável, só veio à superfície da Terra duas vezes: uma para ser curado de um ferimento pelo centauro Quíron, e outra para raptar sua amada Perséfone, o que reforça o que foi dito acima sobre serem o corpo (saúde) e o Amor dois poderosos veículos para a manifestação do Destino.

Antes de Plutão ser descoberto, Saturno personificava o Senhor do Karma e cobrador do Destino. Porém, convém recordar que Saturno também é um símbolo de experiência e sabedoria.

Carl G. Jung disse que, quando não estamos sintonizados com a nossa vida interior, as coisas que nos acontecem são vistas como Destino, parece que não temos nenhuma responsabilidade sobre elas, mas quando estamos conscientemente em contato com nosso íntimo, os eventos são vistos como oportunidades de crescimento, entendemos nossa responsabilidade neles e procuramos colaborar. Ou, como ele mesmo resumiu; “livre arbítrio é fazer de bom grado aquilo que é preciso fazer.”

Nosso íntimo, o Self, é o Sol, símbolo da Vontade, ou livre arbítrio. Ao contrário do Destino, feminino e terrestre, é um princípio masculino e espiritual, representado nos mitos e contos de fadas pela figura do herói, indivíduo corajoso, bom caráter, mas que deve passar por várias provas e dificuldades para adquirir sabedoria e desenvolver virtudes espirituais.

Na verdade, somos todos heróis em busca de nosso verdadeiro Eu; as surpresas do Destino apenas vêm confirmar que, sem a experiência no mundo material, não haveria sabedoria, nem evolução espiritual.