Relacionamentos

Divani TerçarolliArtigos, Textos Diversos

Algumas pessoas pensam que só serão felizes se conseguirem encontrar sua ‘alma gêmea’.

Os mais românticos não vão gostar muito mas, astrologicamente, existem milhares de pessoas compatíveis conosco. A esperança de encontrar uma alma gêmea, revela uma certa infantilidade, pois o que se pretende, na verdade, é encontrar alguém que seja um mero reflexo de nós mesmos, um verdadeiro espelho , para que não seja necessário fazer ajustes, ou ter que se adaptar a um modo diferente de ser. Também eliminaria do relacionamento, o risco de rejeição ou de abandono por parte do ser amado. No entanto, esquecemos que o espelho, ao refletir nossa imagem, mostra também nossas imperfeições… Essa é exatamente a função mais importante dos relacionamentos em nossas vidas: nos fazer enxergar nossos defeitos, para que possamos crescer, amadurecer, e nos tornarmos melhores.

Se tudo o que fizéssemos fosse sempre uma unanimidade, se só recebêssemos aplausos, não mudaríamos nunca, não evoluiríamos como seres humanos; seriamos sempre como uma criança mimada que não quer ser contrariada. Só quando alguém diz a essa criança que ela é muito chata, que não sabe brincar nem dividir seus brinquedos, é que ela irá se esforçar para ser menos egoísta, porque senão, vai acabar brincando sozinha.

Acima de tudo, acredito que o amor é uma relação entre iguais. Pessoas que proíbem o parceiro de ter vida própria, fazer as coisas de que gosta, e ainda pensam que ciúme é prova de amor, demonstram insegurança. Ninguém pode ser tudo para alguém. Ninguém pode preencher todos os espaços na vida de alguém. Claro que existe a fase da paixão, quando os amantes se bastam, quando não se quer dividir a pessoa amada com mais ninguém. Mas quando isso passa, quando a rotina se instala, e deixamos de ser uma novidade para o outro, muitos relacionamentos fracassam, pois para viver um relacionamento saudável, o importante é compartilhar experiências, e para isso, devemos ter interesses próprios, nossas atividades, nosso trabalho, nossos amigos, e não ser apenas um prolongamento do outro. Dessa forma, continuaremos sendo interessantes para o parceiro, teremos algo a acrescentar, informações e idéias para trocar.

Pessoas que precisam ter alguém a seu lado para se valorizar, para exibir como um troféu – muitas vezes sem se importar em permanecer ao lado de parceiros que as agridem e humilham – têm graves problemas de autoestima. Muitos aceitam parceiros que traem e fazem saber que traem, só para não ficarem sós. É claro que cada caso é um caso; há vezes em que temos que admitir nossa parcela de culpa, pois a traição do outro pode ser um silencioso pedido de socorro, pedindo por mais atenção, mais afeto. Se houver um arrependimento autêntico, e se quem está perdoando não se sentir lesado, o ato de perdoar, sincero, de coração, não só “da boca para fora”, pode até fortalecer a relação.

Porém, quando é sempre o mesmo parceiro aquele que perdoa, aquele que tem que engolir o orgulho, isso não é justo nem saudável. O próprio Cristo, quando veio à Terra, pediu que amássemos ao próximo como a nós mesmos, pois se não amarmos primeiramente a nós mesmos, não receberemos amor do outro, nem seremos valorizados pelo outro. Teremos aberto mão de nossa dignidade, de nossa alma, de nossa divindade. Se alguém não estiver bem consigo mesmo, não poderá estar bem com ninguém mais.

E então, quando a gente já tentou de tudo para preservar o amor, mas percebe que não dá mais para viver ao lado de uma pessoa, que só estamos alimentando falsas esperanças, tentando até justificar nosso sofrimento como um karma que é preciso carregar, nos iludindo, como quem mantém vivo um desenganado à custa de aparelhos, então chegou o momento desse relacionamento terminar.

O que não quer dizer, que não tenha sido verdadeiro, ou que não tenha valido a pena…